Bol. CEO 6:15-18 Janeiro de 1989

NOMES REGIONAIS E GERAIS DAS AVES

Edwin 0. Willis & Yoshika Oniki

Depto. de Zoologia, UNESP

13500 – Rio Claro, SP

Oliveira (1987), registrando o nome "calandra real" para Mimus triurus de Peruíbe, São Paulo não indicou se este é utilizado pelos habitantes da região (nome regional) ou se é proveniente de outra localidade (nome geral). De fato, "calhandra" é nome para os Alaudidae do Velho Mundo (Sacarrão e Soares, 1979) e devido à semelhança pode ocasionar confusões. Em nossas pesquisas entre os leigos do estado de São Paulo, os Mimidae são geralmente conhecidos por "tejos" ou "sabiás". Provavelmente, Oliveira quis indicar um nome geral para Mimus triurus, assim como ocorreu para outras espécies nos livros de Santos (1938, 1940), Frisch (1981) e Sick (1985).

Figueiredo (1986) e Willis e Oniki (1986) indicaram que os nomes gerais não devem ser impostos sem cuidados e sem consultas com outros ornitólogos. Assim, estamos circulando as listas das aves brasileiras para os interessados em opinar sobre o nome geral para cada espécie.

Hofling (1987) toma uma atitude de confronto com o uso de nomes gerais, assim contrariando Oliveira, Sick e nós (entre outros). Respondendo aos comentários da distinta professora de anatomia de aves: Primeiro, já ocorre em publicações brasileiras o uso de nomes vernáculos sem nomes científicos (Santos, 1938), com ou sem a estabilidade de nomes gerais. Não é necessário ir às publicações em inglês para a obtenção de exemplos. Entretanto, na língua inglesa um nome geral refere-se a uma espécie, enquanto no Brasil usa-se qualquer nome escolhido subjetivamente. No livro de Howard e Moore (1980), entre outros, é fácil descobrir o nome científico para qualquer ave. No livro de Andrade (1982), é frequente haver várias espécies com o mesmo nome e ninguém pode descobrir qual é a ave. No caso de querermos nomes científicos nos títulos de trabalhos, é fácil: cada revista precisa exigir isto, inclusive para os trabalhos sobre anatomia ou fisiologia de "pombos" (Columba livia, geralmente). Segundo, é verdade que um nome geral (como o uso de qualquer nome) pode tomar o lugar de outros nomes regionais, mesmo que os leigos e profissionais continuem usando os outros. Nada impediu a Dra. Hofling de dar todos os nomes regionais de Mimus saturninus em seu trabalho (p.27), mas ela citou somente um nome regional, assim desprezando (por não citar) todos os outros nomes para a espécie. Assim ela contribuiu para a tendência atribuída a outros (não especificados, mas obviamente incluindo Santos, Frisch e Sick), de acabar (por falta de uso) com nomes regionais interessantes.

Os nomes gerais acabam sendo usados, não importa o que fazemos, porque são úteis em livros e artigos gerais. Na prática, o problema maior não é aquele descrito pela Dra. Hofling, mas que os nomes gerais ruins acabam com nomes gerais bons. Santos, Sick e outros usaram ou inventaram alguns nomes gerais pouco apropriados. Poucos ornitólogos foram consultados e as escolhas não foram cuidadosamente uniformemente selecionadas. Um nome como "gavião-papa-pinto" pode ser regional, mas será que "deve ser preservado" como um nome geral ? Mesmo usado na Amazônia pelos caboclos (de acordo com J.M.C. da Silva, um de nossos colaboradores), duvidamos que Acta Amazônica deve exigir este, em vez de outro nome nos artigos sobre Buteo magnirostris. Obviamente, uma maior colaboração no trabalho de escolha de nomes gerais diminuirá o número de nomes gerais ruins. Seria bom se os ornitólogos brasileiros começassem a trabalhar e colaborar ao invés de ficarem parados em face ao avanço dos nomes gerias ruins a cada nova publicação que aparece.

Precisamos de ornitólogos que vão para o campo e perguntem aos leigos pelos nomes das aves. Assim, podemos descobrir os nomes regionais ou mesmo elevá-los a nível de nomes gerais. Na Serra de Paranapiacaba, descobrimos o nome "cochi" para Xiphorhynchus albicollis. É um nome interessante, representando razoavelmente uma parte do canto das espécies do gênero. No caso de aprovação do uso para aves da espécie ou do gênero, podemos aumentar o uso de um nome regional, ao contrário do que a Dra. Hofling parece pensar. "Tejo" é outro nome que descobrimos para os Mimidae. Existem pessoas que querem acabar com esse nome regional e utilizar "sabiá" indiscriminadamente para Mimidae e para membros da família Turdidae (ou subfamília Turdinae).

No assunto de nomes oriundos de outros países, não vemos problemas. Forneris (1987) utilizou "condor da Califórnia" para Gymnogyps californicus e "toki" para Nipponia nippon.

Apreciamos que a Profª. Hofling tenha gasto o tempo para publicar as suas idéias, mesmo que ela não venha se dedicando ao assunto de escolha de nomes. No caso de um comentário breve anterior, de Luiz P. Gonzaga no primeiro Boletim do CEO, não foi possível adivinhar as suas razões e esperamos esclarecimentos eventuais.

Referências Bibliográficas

Andrade, G. A. de, 1982. Nomes populares das aves do Brasil. Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal e Sociedade Ornitológica Mineira, Belo Horizonte, 95p.

Figueiredo, L.F.A.A., 1986. Contribuição para discutir a questão dos nomes vulgares para as aves brasileiras. Bol. Centro de Estudos Ornitológicos, São Paulo, 1:30-33.

Forneris, L., 1987. O problema da extinção de espécies. Bol. CEO, São Paulo 3: 23-25.

Frisch, J.D., 1981. Aves brasileiras. Vol. I. Dalgas-Ecoltec Ecologia Técnica, São Paulo, 353 p.

Hofling, E. 1987. Ainda sobre os nomes populares das aves brasileiras. Bol. CEO, São Paulo, 3: 26-28.

Howard, r. e A. Moore, 1980. A complete checklist of birds of the world. Oxford University Press, Oxford. 701 p.

Oliveira, M.M.A. de, 1987. Ocorrência da calandra real (Mimus triurus) (Passeriformes, Mimidae) no Estado de São Paulo. Bol. CEO, São Paulo, 3: 30-33.

Sacarrão, G.F. e A. A. Soares, 1979. Nomes Portugueses para as aves da Europa, com anotações. Arq. Museu Bocage 2ª Ser. 6 (23) : 395-467.

Santos, E., 1938. Da ema ao beija-flor. Rio de Janeiro, reeditado.

Sick, H., 1985. Ornitologia brasileira. 2 vols. Editora Univ. Brasília, Brasília. 827 p.

Willis, E. 0. E Y. Oniki, 1986. O projeto de nomes de aves brasileiras. Bol. CEO, São Paulo, 2:24-26.

Recebido em 9 de março de 1988.